Alguém sabe o que é a sensação de “correlação ilusória”? É aquela sensação que quando estamos numa fila quer seja de trânsito, quer seja do supermercado e temos a sensação que a fila ao nosso lado anda mais depressa do que a nossa.
Este termo pode ser usado também para a vida diária no contexto de síndrome “a vida dos outros corre sempre melhor do que a nossa”. Ou seja, parece que temos a sensação que a vida do vizinho está sempre sem problemas e que ainda por cima ele nem sequer vai á igreja o vizinho até nem quer saber de Deus para nada. Já se perguntaram porque é que os crentes têm problemas? E quem não vive com Deus parece que não tem? Não deveria Deus dar o melhor aos que o seguem? Sorte na vida? Prosperidade?
Hoje vamos ouvir algo sobre isto. Vamos ver o exemplo de um homem que era um líder que servia ao Senhor, mas que teve tentações nesta área da sua vida. Duvidar do cuidado de Deus quando as circunstâncias não são favoráveis. Vamos ler o Salmo 73.
1 Salmo da coleção de Asaf. Como Deus é bom para Israel, para os que têm coração puro!
Quem era Asaf? Era um levita nomeado pelo Rei David (Ver I Crónicas 16:4-6.) Era um compositor de Salmos. Cerca de 12 Salmos Bíblicos são lhe atribuídos – Salmo 50 e do 73 a 83. O Que era um Levita? Proveniente da tribo de Levi, que tinha a responsabilidade de tratar do tabernáculo e mais tarde do templo, mais especificamente do louvor que era ministrado ao povo e dado a Deus.
A afirmação que declara que Deus é bom é como que uma conclusão antes de começar o seu Salmo. Significa que Asaf poderá estar prestes a partilhar algo que sem esta declaração poderia por em causa a bondade de Deus, mas ele quer deixar isso bem claro, de que Deus é BOM. Seria bom cada um de nós refletir sobre a bondade de Deus. Deus é sempre BOM mesmo quando as circunstancias não mostram isso.
Coração puro, significa aqui santo, ou seja, afastado do pecado. Asaf tem necessidade aqui de afirmar que o ser-se santo tem as suas beneficências que é ser alvo da bondade de Deus.
2 Os meus pés estavam quase a resvalar, pouco me faltava para escorregar.
Asaf começa aqui o seu testemunho pessoal. Ele afirma que houve uma dada altura na
sua vida em que ele duvidou do caminho puro ou santo que estava a tomar. Ele quase
caiu, não literalmente, mas usa uma analogia para dizer que quase caiu na tentação
daquilo que vai explicar de seguida.
É importante ver que sofrer tentação não é pecado, lembremo-nos do exemplo de
Jesus. Pecado é cair na tentação, isto é, percebermos que há uma decisão que é pecado e
fazemos na mesma. Asaf sofre uma tentação, mas como vamos ver fica somente no
campo do pensamento, e logo ele chega à conclusão que está descrita no versículo 1 – O
Senhor é Bom para os de coração Puro.
3 Pois sentia inveja dos soberbos, ao ver como os maus prosperavam.
Qual a tentação de Asaf? Inveja dos maus, dos de coração impuro. E da sua prosperidade.
4 Para eles não há aflições, pois estão cheios de saúde.
(Nunca se perguntaram porque é que os servos de Deus sofrem problemas de saúde graves
enquanto que quem não segue Deus pode até gozar de boa saúde)
5 Não sofrem as contrariedades da vida, nem são atormentados como os outros.
6 por isso, enchem-se de orgulho e cobrem-se com o manto da violência.
7 Os seus corações transbordam de maldade e as suas mentes estão cheias de más
intenções.
8 Zombam e falam com maldade, dizendo que é de Deus que vem a injustiça.
9 Protestam contra Deus, que está nos céus e a sua língua percorre a terra.
10 Por isso, os seus seguidores se voltam para eles e bebem com avidez as suas palavras.
11 Eles dizem: «Como é que Deus vem a saber disto; como é que o Altíssimo vai descobrir?»
12 São assim os maus: vivem cada vez mais ricos, sem se importarem com Deus.
Nesta secção do salmo desde o versículo 3 até ao versículo 12 Asaf faz uma descrição
daquilo que à primeira vista acontece com aqueles que não querem seguir Deus e que
fazem coisas contrárias à vontade de Deus, ou seja, que pecam sem se importarem com
isso e mais parece que recebem benefícios por isso. Apesar da sua maldade parece que
prosperam. Enganam, são corruptos, roubam, etc… mas prosperam materialmente e na
terra.
Temos exemplos de isto hoje em dia? (Ex. Mau uso dos donativos de Pedrogão Grande)
Porque Deus não age já?
Vivemos num tempo em que Deus deu liberdade para vivermos como queremos, e Deus
respeita essa liberdade, sendo ela o pendor para Deus perceber o que queremos fazer
com a nossa vida, se seguir Deus, se nos afastarmos Dele. Deus não nos obriga a nada, mas
Ele deixa bem claro que as nossas ações trazem consequências ao nosso futuro e ao futuro
daqueles com quem nos relacionamos. Se temos liberdade temos também de ter
responsabilidade. Ou seja, não podemos decidir e depois se correr mal culpar Deus pelo
maus resultado da nossa decisão. E temos de compreender também que a minha liberdade
e responsabilidade tem influência no meu próximo. Deus manda amar o próximo como a
nós mesmos, mas por vezes tomamos decisões que prejudicam o próximo sem sequer nos
importarmos com isso.
13 De nada me serve ter um coração puro e ter as mãos limpas de toda a maldade!
Asaf começa a duvidar se vale a pena ser-se santo? Se vale a pena sofrer na pele o ser-se
correto. Quantas vezes não ouvimos pessoas a dizer que “toda a gente faz”; “Assim não
vale a pena” … justificando as suas más ações e pecado? Quantas vezes agimos nós assim
também?
14 Sofro provações a toda a hora; todas as manhãs sou castigado.
Asaf apesar do seu esforço de tentar agir sob a santidade e a pureza, ele sofria provações
que ele entendia ser um castigo. Convém percebermos que não existe uma relação direta
entre a obediência a deus e a prosperidade na terra. Algumas igrejas têm pregado isso
por aí e induzido em erro os outros, mas isso não é bíblico. Ver o exemplo dos nossos
irmãos perseguidos em países onde há perseguição cristã. Deveriam ser eles os mais
beneficiados, mas sofrem com torturas e morte deles e dos que lhes são queridos.
Não existe uma relação direta entre a obediência a Deus e a prosperidade terrena.
15 Se eu tivesse pensado como eles, eu atraiçoaria aqueles que te são fiéis.
Asaf lutava contra este tipo de pensamentos. Era uma luta espiritual que ele
enfrentava, e que todos nós de alguma forma passamos.
16 Tentei compreender isso, mas foi muito penoso para mim.
Continuação da sua luta espiritual. Uma batalha é sempre penosa. Para compreendermos
isto temos de contar com a ajuda de Deus. Jamais conseguiremos compreender isto
somente com a nossa perspetiva humana, Deus tem de estar na equação. Temos de pedir
ajuda a Deus para compreendermos certas coisas que acontecem na terra.
17 Só quando entrei no santuário de Deus, compreendi qual iria ser o fim deles.
Aqui Asaf foca-se naquilo que é o correto. É como que até agora ele estivesse a ver o
mundo com a lente errada e Deus foca a lente dele de forma correta mostrando a
perspetiva correta. (ex. da lente da máquina fotográfica)
Perspetiva do fim. Deus sempre coloca a perspetiva do fim na equação. Aquilo que é
importante não é a forma como começa, mas sim como acaba. Para nós interessa tanto
como começa como acaba porque não temos conhecimento de quando acaba, daí ser
muito importante começarmos bem, mas o melhor ainda é acabar bem.
Deus quer-nos focados na perspetiva eterna e não terrena. Jesus em Mateus 6:19-21
motiva-nos a juntar tesouros no céu e não na terra, ou seja, trabalhar para ganhar
riquezas no céu, que é fazer a vontade de Deus, levar o evangelho a todas as pessoas,
viver uma vida santa e pura, ao invés de juntarmos tesouros na terra onde muitas das
vezes são adquiridos de forma ilícita, e que vão ficar cá na terra quando morrermos.
Avaliar se a perspetiva que reina na nossa vida é uma perspetiva terrena ou eterna.
18 Tu hás de conduzi-los à perdição, e fazê-los cair na ruína.
19 Num momento ficarão destruídos! O medo acabará com eles!
20 Como quando alguém desperta de um sonho, quando te levantares, Senhor, desprezarás a imagem deles.
Nestes 3 versículos Asaf mostra-nos de uma forma clara qual o fim daqueles que insistem
em ter um coração impuro ao contrário de santo. Deus não deixará jamais ficar impune
esses comportamentos. Deus é o Justo Juiz e há-de no Seu tempo fazer Justiça. Nenhuma
má ação ficará impune no momento da Justiça de Deus. Ler Hebreus 4:13.
21 Outrora, o meu coração estava cheio de amargura e a minha mente, transtornada;
Esta palavra “Outrora” mostra-nos que existe uma mudança na vida de Asaf, em que
houve um dia em que o coração dele estava assim cheio de amargura e a sua mente
transtornada…
22 era insensato e nada compreendia. Eu era como um animal diante de ti!
… em que era um insensato e não compreendia as coisas de Deus, aliás compara-se a um
animal porque os animais não têm esta perspetiva eterna. Por vezes somos como animais
sem entender Deus.
Mas depois houve uma mudança. Analisando o versículo 23…
23 No entanto, tenho estado sempre contigo; tu conduzes-me pela mão,
No entanto… existiu uma mudança. Cf com II Coríntios 5:17 (Ler)
Deus nunca nos abandona, não nos momentos bons, e especialmente nos momentos maus
de crises espirituais em que somos inundados por dúvidas acerca da nossa espiritualidade
com Ele.
24 guias-me ao teu convívio e hás de receber-me com honras.
O convívio com Deus era o que mais deveríamos desejar.
25 Quem tenho eu no céu, além de ti? Na terra só desejo estar contigo.
Não deve haver nada na nossa vida que desejemos mais do que Deus. Seja na terra seja
no céu. O que nos vale não é o dinheiro que temos no banco, ou as riquezas que temos nesta
terra, mas sim Deus. Deus é a nossa segurança.
26 Ainda que o meu ser se esteja a consumir, Deus é quem dá força ao meu coração; ele é a minha herança para sempre.
Deus é a nossa verdadeira riqueza. Não uma herança cheia de bens materiais e dinheiro,
mas Deus é a nossa herança.
Fazendo aqui o paralelo para a herança deixada pelos pais aos seus filhos, muitas das
vezes se houve falar que os pais querem deixar boas heranças para os filhos estarem bem
nesta vida, e matam-se a trabalhar para obterem uma situação financeira estável. Pois
aquilo que a Bíblia afirma é que a melhor herança que uns pais podem deixar para os seus
filhos é a espiritual. A de uma experiência com Deus que perdura por toda a eternidade.
Quantos pais focados na obtenção da riqueza material deixam escapar a espiritualidade
de seus filhos e perdem-nos para toda a eternidade? Dramático quando as prioridades
estão trocadas, quando o terreno e material cem primeiro que o espiritual.
27 Os que se afastam de ti vão perder-se; tu destróis aqueles que te renegam.
28 Para mim, a felicidade é estar perto de Deus. Tu, Senhor, meu Deus, és o meu refúgio; hei de proclamar tudo o que tens feito.
Nestes dois últimos versículos Asaf volta a mostrar o fim daquele que vive uma vida
afastado de deus e daquele que vive uma vida próximo de Deus.
Asaf declara que a felicidade para ele é estar próximo de Deus. Estar próximo de Deus
significa ter intimidade com Ele. Ser amigo, ser filho de Deus. Ter Deus como pai e
obedecer-Lhe de livre vontade. Fazer tudo para agradar ao seu Pai espiritual que é Deus.
O que é a felicidade para si? Ter coisas terrenas e materiais nesta terra? Ou ter intimidade
com Deus ao ponto de sofrer nesta terra, mas sabendo que a maravilhosa promessa de
vivermos com Deus por toda a eternidade é real e está reservada para aqueles que têm um coração Puro?
Bem sabemos que sofrer não é fácil, mas olhemos para o nosso Senhor Jesus que tanto sofreu nesta terra para nos alcançar tamanha Glória no céu.
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