Hoje vamos dar continuidade a expor o sermão do monte, e vamos entrar no sermão propriamente dito, ou seja, no conteúdo dado por Jesus ais seus discipulos. Relembro que este discurso de Jesus é dirigido aos seus discipulos e não há multidão.
Vamos ler Mateus 5:2-11. (LER)
A primeira coisa a salientar é entendermos que as bem-aventuranças descrevem o caráter equilibrado e diversificado do povo cristão. Não existem oito grupos separados e distintos de discípulos, alguns dos quais são mansos, enquanto outros são misericordiosos e outros, ainda, chamados para suportarem perseguições. São, antes, oito qualidades do mesmo grupo de pessoas que, ao mesmo tempo, são mansas e misericordiosas, humildes de espírito e limpas de coração, choram e têm fome, são pacificadoras e perseguidas.
Para além disso, o grupo que exibe estas caracterísitcas não é um conjunto elitista, uma elite ou uma pequena aristocracia espiritual distante da maioria dos cristãos. Pelo contrário, as bem-aventuranças são especificações dadas pelo próprio Cristo quanto ao que cada cristão deve ser. Todas estas qualidades devem caracterizar todos os seus discípulos. Da mesma forma que o fruto do Espírito, descrito por Paulo, deve amadurecer em todos os seus aspectos, no caráter de cada cristão, também as oito bem-aventuranças que Cristo menciona descrevem o ideal de Jesus para cada cidadão do reino de Deus. Ao contrário dos dons do Espírito, que Deus distribui a diferentes membros do corpo de Cristo a fim de equipá-los para diferentes espécies de serviço, Deus no que toca a estas carcateristicas do sermão do monte está interessado em produzir todos estes aspectos em todos nós. Não podemos fugir à nossa responsabilidade de alcança-las todas.
Cada Discipulo de Jesus é elogiado na medida em que possui cada qualidade focada. Cada pessoa que possui a qualidade é declarada como sendo “bem-aventurada”. A palavra grega para “Bem-aventurado” é makarios que significa “feliz”. Outra possível tradução que nos ajudará a entender o significado desta palavra é “abençoado”. Devemos ter cuidado ao traduzir a palavra makarios porque no português corrente o seu significado mas usual nos pode induzir a um erro sério relacionado com o termo “felicidade”. Temos de entender que existe um enorme fosso entre a definição de felicidade para o mundo e a definição de felicidade no reino de Deus. Jesus ao dar as bem-aventuranças não está a declarar que essas pessoas se sentirão “felizes” de acordo com os valores do mundo, mas lembrem-se que os discípulos de Cristo não são mais regidos pelos valores do mundo, mas sim pelos valores do reino de Deus, assim cada cristão deveria basear a sua vida na seguinte premissa “se Deus se sente feliz isso deveria-me fazer feliz” pois deveria ser nossa prioridade procurar a felicidade do nosso Senhor. Desde que aceitámos Cristo como nosso Senhor, que a nossa prioridade deve ser fazer Deus feliz, quando Deus está feliz nós devemos estar felizes, e alguém com estas características faz Deus feliz.
A felicidade do mundo em contrapartida é algo momentâneo e passageiro, muitas vezes na sua maioria baseada em algum sentimento egoísta. Enquanto que a felicidade vinda de Deus é eterna.
Várias outras passagens da Bíblia utilizam esta palavra “Makarios”…
Salmo 32:1-2 (o equivalente a “Makarios” no Antigo testamento é “Ashre”);
Romanos 4:6-8; João 20:29; Tiago 1:12; Apocalipse 22:7, 14.
Cada aspecto que Jesus quer ver no carácter dos seus discipulos é acompanhado de uma benção. Dádivas como o reino dos céus e a terra como herança; o consolo e a satisfação, a misericórdia, o ter a oportunidade de ver Deus, e o serem chamados filhos de Deus, estas são as suas recompensas. Sabemos que nos valores do mundo as recompensas que mais nos fascinariam seriam bens materiais, poder, influência, mas lembremo-nos que o nosso Salvador resistiu a essa tentação quando foi tentado por Satanás no deserto. Devemos colocar os nossos olhos na recompensa celestial que é grande e eterna.
Exatamente como as oito qualidades descrevem cada cristão (pelo menos em ideal), da mesma forma as oito bênçãos são concedidas a cada cristão. É verdade que a bênção específica prometida em cada caso é apropriada à qualidade particularmente mencionada. Ao mesmo tempo, é totalmente impossível herdar o reino dos céus sem herdar a terra, ser consolado, sem ser satisfeito ou ver a Deus, sem alcançar sua misericórdia e ser chamado seu filho. As oito qualidades juntas constituem as responsabilidades; e as oito bênçãos, os privilégios, a condição de cidadão do reino de Deus. Este é o significado do desfrutar do governo de Deus. Do alcançar a verdadeira felicidade.
No entanto temos de salientar que o homem pelo seu próprio esforço não consegue chegar a estas cartacteristicas e por sua vez a estas recompensas. Não é algo que o homem faça para merecer essa benção. Todo o Sermão realmente pressupõe uma aceitação do evangelho, uma experiência de conversão e de novo nascimento, e a habitação do Espírito Santo. O sermão descreve pessoas nascidas de novo, aquilo que os cristãos são (ou deveriam ser). Portanto, as bem-aventuranças apresentam bençãos que Deus concede (não como uma recompensa aos méritos, mas como um dom da graça) àqueles nos quais ele está desenvolvendo um caráter assim.
Vamos então entrar na especificação de cada bem aventurança e tentarmos perceber juntos om que significa cada uma delas.
3 Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus.
Os que têm maior necessidade espiritual estão mais aptos para perceber essa necessidade e depender só de Deus e não da sua própria bondade ou boas ações. Algumas traduções falam em pobres de espírito. Uma pessoa pobre tem necessidades, por outro lado a rica confia mais nas suas posses do que na dependência de Deus. A materialmente rica pensa que não tem necessidade de Deus e que espiritualmente falando também pode depender das suas ações para ganhar algum favor de Deus ou então comprar os favores de Deus. Enquanto que a pobre depende inteiramente de Deus, sabe que na sua condição somente Deus a pode salvar.
4 Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados.
O contexto desta passagem indica que os que choram estão a fazê-lo por causa do pecado e do mal, especialmente os deles mesmos. E choram por causa do fracasso da humanidade em ter caído no pecado e terem falhado em dar a glória devida a Deus. O pecado traz tristeza e a tristeza choro. Quantas vezes chorei eu depois de me ter apercebido que pequei contra Deus. No Salmo 32 David afirma que estava num estado sem vigor porque tinha pecado contra Deus (LER), e nós qual a nossa postura para com o pecado? Aqueles que choram mostram arrependimento e esses serão consolados por Aquele que venceu a morte e o pecado.
5 Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra.
Esta bem-aventurança assemelha-se à do Salmo 37:11 que afirma, “Mas os mansos herdarão a terra, e se deleitarão na abundância de paz” e talvez esteja baseada nela. A mansidão aqui referida é de natureza espiritual, uma atitude de humildade e submissão a Deus. O nosso modelo de mansidão é Jesus, e a palavra manso usada aqui no grego é a mesma que é usada em Mateus 11:29 referindo-se à pessoa de Jesus quando afirma que Jesus é manso e humilde de coração, na medida em que Ele se submete à vontade de seu Pai. “Pai se possível passa de mim este cálice, porém seja feita a Tua vontade.” Quantas vezes o irmão reclama com Deus?
A terra que herdaremos será a nossa pátria celestial. A nossa nova terra será o céu.
6 Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos.
Aqueles que procuram a justiça de Deus recebem aquilo que desejam, e não os que confiam na sua própria justiça. Ter fome e sede de justiça, ou seja, desejar a justiça de Deus acima de tudo, significa que estamos numa constante luta contra o pecado. Contra a injustiça, ou qualquer senso de justiça depravada do ser humano. Um Dia Jesus voltará e implementará a justiça de Deus que é perfeita. Não podemos deixar de falar da justiça que o sacrifício de Jesus trouxe ao nosso relacionamento com Deus. A Justificação, a obra de Cristo satisfez a Justiça de Deus. Se não for nesta terra decadente um dia na nossa nova terra iremos viver de uma forma em que estaremos plenamente satisfeitos (fartos) com a justiça de Deus.
7 Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia.
Misericórdia é uma característica de Deus. Se agimos em misericórdia para com os nossos inimigos, Deus nos permitirá alcançar misericórdia também da parte Dele. Jesus sempre motivou os seus discípulos a amar e a tratar com misericórdia os seus inimigos. Muitas parábolas focam esse ensinamento. Não podemos ser graciosos para com o pecado do nosso próximo, mas a pessoa em si tem de ser alvo do nosso amor. Ama o pecador e abomina o pecado. Assim tem de existir uma separação entre a ação e o ser. Temos de ser misericordiosos para com o ser, e lutar contra o pecado que é a ação má.
8 Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus.
Limpo de coração é aquele que é Santo. Aquele que vive afastado do pecado. Jesus foca o coração e não as ações, porque se o coração for limpo as ações serão santas, se as ações forem boas não significa com isso que a nossa motivação provenha de um coração limpo. Deus é 3 vezes Santo (Isaías 6) e Jesus afirma que somente os que buscam a Santidade poderão ver a Deus. Pelo facto de Deus ser espírito, a sua essência divina é invisível, mas os santos verão a Deus através dos olhos da Fé, e Jesus assegurou aos seus discípulos que O vendo a Ele viriam o Pai. Quando estivermos no céu, na Glória, os santos filhos de Deus verão Deus tal e qual como Ele é. I João 3:2 (LER).
9 Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus.
Aqui Jesus fala acerca da paz espiritual. Aqueles que facilitam os outros, mais do que a encontrarem paz física, facilitam o encontro com Jesus possibilitando a paz espiritual com Deus, e eles próprios conseguem manter essa paz com Deus. Os filhos de Deus têm a função de eles próprios terem paz com Deus e de providenciar oportunidade para outros alcançarem essa paz com Deus. Como podemos providenciar aos outros oportunidades para terem paz com Deus? Pregando-lhes o evangelho. Mostrando-lhes o que aconteceu para que essa paz fosse alcançada.
10 Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus.
Perseguição por se querer praticar a justiça, será uma realidade na nossa vida se decidirmos levar o cristianismo a sério. Devemos buscar a justiça do reino de Deus em primeiro lugar.
11 Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem, e vos perseguirem, e, mentindo, disserem todo mal contra vós.
Sofrer pela causa de Cristo é algo que não nos deve assustar, antes pelo contrário devemos estar gratos por Deus nos dar a oportunidade de sofrer por amor a Cristo, porque Cristo sofreu por amor a nós. LER I Pedro 3:13-18
12Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois assim perseguiram aos profetas que viveram antes de vós.
Galardão significa prémio, não sabemos que prémio será, mas que o nosso esforço vai ser recompensado isso vai. Lembremo-nos de Hebreus 11:39 – 12:4
Não podemos desistir da vida cristã somente por causa de adversidades e perseguição. O nosso Senhor Jesus sofreu por nós para nos dar uma vida com Deus, temos de estar dispostos a sofrer por amor a Cristo.
Os discípulos de Cristo são chamados a reconhecer a sua pequenez espiritual e com isso depender somente de Deus e não dos seus esforços;
São chamados a chorar aquilo que o pecado traz;
São chamados a serem mansos como o seu mestre e é que nos desafiou sempre a dar a outra face;
São chamados a serem justos, misericordiosos, santos e pacificadores.
E mesmo se nos perseguirem por causa de sermos assim, devemos aguentar e persistir no caminho de Deus, porque iremos receber a recompensa.
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